quinta-feira, setembro 18, 2008

Diálogo

- O que diz seu sóbrio pensamento?

O que te traz a adiposa sensação de ser livre?

O que vê a visão cansada

Sobre suas olheiras ornamentadas?

O que vê esse olhar-mulher?

De onde vem seu andar escuro?

Para onde vai seu transitar que perfura a sufocante neblina desta velha cidade fria e áspera?

- Não sei!

quinta-feira, agosto 28, 2008

Variações sobre o tema “garganta” (poema em 3 movimentos)

I Calmo

Estou caído, estou caído e ninguém vê. No poema que ninguém lerá estará todas as palavras de ódio não ditas, todas as verdades caladas, os segredos velados, sufocados que fazem inchar, viram pus, transubstanciam-se em bolhas prestes a estourar na garganta num grito inaudível de sarcasmo inocente.

II Agitado

Frustrado com a fuga dos escravos, Ele nos manda de volta a peste. Enfunando os papos nos vêm de novo os sapos: praga parnasiana. Repararam nos novos poetas e no seu lirismo monótono?

III Alegre Agitado (sob efeito de anfetaminas)

Ácida idade, a poética da cidade está no limiar entre a sanidade e a sonoridade dos vôos dos carros e dos roncos das glotes tapadas. Ali está todo o sentimento real e toda nossa tendência homicida.

segunda-feira, julho 21, 2008

Arrepio na espinha

As belezas são pontos luminosos no dia
São como ouro na mina
Espelhos prismáticos que rasgam a retina
Correm o corpo
Fluxos, fluídos
No pênis, na vagina.

quarta-feira, julho 02, 2008

Trava

Boto toda maquiagem

Gloss, blush, brilho

Pronta pra viagem

Pra vadiagem

Salto sobre o salto

Solta.

Sigo.

Travestida de sonho

Na rua gritam “Lá vai a prostituta”

Eu sou a puta!

E só Deus entende minha luta

Minha labuta

Sou a vadia de uma outra esquina

Nem menino, nem menina

Um devir sem passado, sem sina

Sem vagina.


As luzes laranja dos postes

Refletem em minha retina

Na escuridão, voa meu cabelo

Sou penetrada pelo meu primeiro cliente

Na praia, os dois nus em pêlo.

O amo por um momento

Estou feliz por tê-lo

Dentro de mim.

De repente, o vazio.

Sinto frio.

O primeiro golpe me derruba

O sangue vela na veia

E depois escorre pela areia

Mas não saceia.

Chutes e socos.

Oh! O som oco do ar

Da batida forte a costela.

“Cadela”.

Do tapa, o chiado.

“Viado!”.

“Safado!”

E a dor.

E a dor.

Onde está a dor?

Nesse ardor no peito?

No leito da alma?

No erro?

Quero estar num lugar

Onde não haja pecado, nem perdão.

Nem o não.


Em casa,

No banheiro,

Olho-me no espelho

E os meus sonhos escorrendo como tinta

Pelo ralo da pia.

E triste, acordo e percebo

Que ainda sou eu mesma.

terça-feira, julho 01, 2008

A última paixão de S.R.


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Perdoa-me! Não sei o que faço!
Não sei onde erro, por favor, me dê um abraço
Toque em mim, envolva-me com teu braço
Aperte, aperte, aperte como faz com o laço
(do sapato!)

Não! Por que me abandonas?!
Por que esse gosto amargo da derrota?
Deve ser todo o amor que arrotas
Hei de procurá-lo em todas as zonas, eu juro.
(para curar a desonra!)

A verdade: teu corpo é meu Paraíso.
Só mais uma vez quero nele estar
Ouvir lânguido mais uma vez o guizo
(da cascavel)

Eis teu filho. Eis teu pai. Eis me nu.
Como Cristo de braços abertos, te espero
Espero penetrar-me no...
(coração que sangra!)

Tenho sede de sua semente líquida
Do seu ódio escorrendo alvo
Da veia verde pulsante, vívida!
(que deixa na carne a ferida)

Ah, a delícia do seu corpo suado...
Goza. Tudo está consumado.
(eis o último poema!)

Entre tuas mãos sempre esteve o meu corpo.
(e o sopro orgástico divino criador!)

quarta-feira, junho 18, 2008

Anamorfose

De repente, um ruído dói: o silêncio
um lugar sufoca: o vazio
uma presença incomoda: a solidão.

Por onde andarás?

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Em branco

Uma ausência me dá ódio

Uma ausência que nem sei

Falta um não-sei-o-quê em mim

Falta algo que está-e-não em mim

Como alguém que teve o olho vazado, tateio.

Como alguém que teve a mão cortada, abraço-me.

Enquanto gemo

Enquanto olho o céu sem estrelas

Escrevo para preencher espaços vagos

Escrevo no branco e em mim

Mas o vazio permanece

A ausência ainda está aqui.

Choque térmico

Do sol para a couro do banco

Do couro do banco para a bunda

Na bunda o calor

E o pensamento desperto-fora

A anti-matéria anti-humana

Criatura criadora rompe

Um ponto de fuga surge

Serge-se

Como um buraco negro suga

O sujeito

A cidade

O acidente

A sujeira

O calor.

Buraco negro na bunda

No couro do banco

No sol.

Tudo muda

Tudo muda

Hoje seu silêncio não tem o mesmo som

Soa a desprezo

Desprega-te de mim

Despe-me

Expõe a vergonha de meus sentimentos.

O mel que jorra de ti

Agora é amargo

Antes eu o tivesse engolido.

As lembranças evanescem,

Consolam-me.

Rompo.

Eu não sou único.

Já não posso viver sem o outro

Evito o terror da solidão

Não. Eu me importo.

E o que te importa, não é?

É. És? Só és por mim.

E por mim

É o fim.

(do texto!)

os olhos em brasa

sou um anjo

sem asa

sábado, fevereiro 09, 2008

falo

sábado, fevereiro 02, 2008

Te amo


Às vezes, me desassossego

Com desejos homicidas me pego.

Quero matá-lo, espanca-lo, amá-lo

Para arrancá-lo deste estado cego.

Fazer fissuras em sua pele

Desenhos e frases românticas

Com um prego.

Acabar com seu Ego...

Eu nada de nego, Nêgo!

Eu só te quero!

Cortar nossos tórax, costurá-los

Estreitar o elo.

Dar em sua cara com o chinelo.

Quero ouvir, nos corredores,

De seu grito, o eco.

Você me obriga rimar amor e dor

E a sua é um átomo da minha.

Eu poderia tocar fogo nesta casa

E na cama em chamas sorrir

Ao sentir nós dois incrustados,

Colados pela solda

Do suor, do gozo e do fogo.

Ver seus olhos no teto, o rosto de lado,

O quarto, nosso amor tomar em estado gasoso...

Eu poderia, não faço.

Prefiro abrir discreto a báscula do banheiro

Para que entre todos os mosquitos sedentos.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Vestindo-me

A noite cai.
make up.
Cabelo.
Gloss.
Palhaço ou puta?
Sentindo-me a Miss Colômbia na Tv.
Cachaça, limão e açúcar.
Ascende e apaga.
Sobe e paga.
Todos tem seu preço.
Acordo.
Sou eu mesma?

Meu parto

Contorcia-se histérica de dor e alegria orgástica

Com os tecidos da barriga estirando-se parafrásica.

Dilatava-se, de pernas abertas, tendo hemorrágicas cólicas e feliz por tê-las.

Combates internos mexiam todo seu corpo

O amor e o fascínio da descoberta

A vagina rasgada ao meio

E o clarão que sai de dentro ilumina todo o quarto.

As extremidades superior e inferior

Sangram, sagram-se

A uma estrela cintilante é dada,

Enquanto dá,

A luz.

E a incômoda presença satânica

Daquele senhor de bigode no canto da sala

Estendendo a mão?

“Sim, Fredi! Também quero estar prenhe de caos.”

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Numa folha verde arrancada, poema escrito a caneta


(click sobre a imagem para vê-la ampliada)

Poema feito sobre um pedaço de sacola plástica de supermercado


(click sobre a imagem para vê-la ampliada)

Texto escrito em um pedaço de caixa de bombom

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quarta-feira, dezembro 26, 2007

Intervenção sobre um pedaço de jornal velho


(click sobre a imagem para vê-la ampliada)

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Ata-me!

A paisagem urbana corre no horizonte

Na direção oposta a minha lágrima

Chuva, choro, despedida e em teus olhos tanta raiva

Despeja-a sobre mim como torrencial fonte.


Odeia-me com toda sua alma!

Bata em meu rosto, deixe a marca

Dos teus dedos tão carinhosos, da palma

Assim te carregarei comigo sem a sensação amarga

Da culpa.


Morda-me, arranca-me uma parte!

Crie em minha pele roxas abstrações

Faça de mim tua tela em branco, tua arte

Enquanto, a tarde, a carne arde, tenho certas ilusões.


Chute minhas costelas!

Retira-me mais uma vez o ar

Prova-te o quão sádico, louco és.

Na demoníaca vontade de, tomado pelo desejo, amar.


Puxa meu cabelos,

Incline minha cabeça para trás

Assim verei o céu, verei estrelas

E meus membros como me atas.


Soca-me, soca-me, por favor!

Soca-me até minha pálpebra inchar

Para que eu durma no sossego da física dor

Enquanto seu corpo e sua alma já sem ira,

Passam me amar e me sodomizar

Enquanto o negro da noite azulece.


terça-feira, agosto 14, 2007

Texto escrito no ônibus contornando as manchas de claridade produzidas pelo sol entrando pela janela do veículo e projetadas sobre meu bloco.



(click sobre a imagem para vê-la ampliada)

segunda-feira, junho 11, 2007

O Suco da Laranja Orgânica

“Ah, vamos ver. Já me desgastei muito com você...”

“Vamos ver?!
Nos ver!
nos sentir
nos tocar...
nos gostar...
nos rasgar
nos lacerar
nos aprezer
nos morder
nos arranhar
nos desenhar
nos lamber
nos puxar
nos penetrar
nos alegrar
nos entregar
nos jogar
nos bater
nos definir
nos libertar
nos cortar
nos contentar
nos efeminar
nos esconder
nos olhar
nos beijar
nos amar

nus!"

quarta-feira, abril 04, 2007

sexo verbal criador

pensa, escreve, pensa, escreve...

e pensa.
e pondera
e voa.
e elimina
e goza.
e lava
e chora.
e volta para o uol.com.br/chat
e evapora.
some.
(que lindo esse poema!)
e dá graças a deus
e deus cospe.
mas lambe os beiços
e penetra o universo com os dedos
e descobre seu erro
de olhar além
e de abrir tanto a boca
e engolir a si mesmo
e o universo todo

quinta-feira, março 29, 2007

divino, sodomita

Click sobre a imagem para ler o texto.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

des-uni-versal

segunda-feira, janeiro 15, 2007

para ti

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Vídeo-abstração

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Video-estudo-arte: "Formas"

Click para ver

sábado, dezembro 09, 2006

"Impoetor" - Poesia-conflito no orkut

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Texto escrito na pracinha de Vila Velha no verso do recibo de meu salário

Texto escrito no ônibus num guardanapo em que veio enrolada uma lata de coca-cola (verso)

Texto escrito no terminal de Vila Velha num guardanapo em que veio enrolada uma lata de coca-cola (frente)

quinta-feira, novembro 30, 2006

te quero

quarta-feira, novembro 29, 2006

sonata silenciosa

és o canto
que tanto
ouço do olho
da estátua
sem manto
no canto
da sala
sois trecho
tétrico
seixos de sons
que saem
ao mover o queixo
sois o desfecho
daquilo
que o grilo
daqui tem
à quilo
na esgueira
da fogueira
fevereira
é a voz
que de nós
sai do cós
da calça.
um girassol
que gera sol.

olhos de água

por sua causa já não tenho medo de não rimar
de fugir a métrica por seu toque
pelo seu sussurro "fique"
torno-me moleque
seu cabelo cor caqui,
seus azuis,
seus amarelos,
seus marrons.
voz silábica que torna-se beijo...

como seus olhos não lhe escorrem pela face?
você é minha poesia sem adjetivo
real e concreta

nosso sono sem bocejo
o deitar leve sobre o peito
nu.

O grito



(Clique sobre a imagem para ver a poesia eletrônica "O grito")

sexta-feira, novembro 17, 2006

Fogo azul

Céu marrom
Chuva fervente
Sob a lua
Água e vapor
Os grãos rochosos grudam na pele dos pés
Carrego parte do solo comigo
E o reflexo marrom do céu
Nos meus olhos castanhos
A água da chuva ferve
Sobre a pele quente pela febre
Do desejo
Vejo a garça
De forma esguias, leves, suaves
Num momento cheio de anseio
E de medo
Na margem do rio
O reflexo se diluindo
Aos movimentos d’água
O frescor de suas mãos
Espalhando álcool pelo meu corpo
E de como risca o fósforo
Acendendo o fogo que nos toma
Na cama
Assim se ama:
No arrepio que o calor nos dá.
Sou tomado pelo gozo
Do azul que lhe escapa
Pelos olhos semi-abertos
E por todo amor
Que nos escorre
Entre as pernas.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Borboletas



(Clique sobre a imagem para ver a poesia eletrônica "Borboletas")

noite abafada

todos na
sala de jantar
salada e juntar
a louça pra lavar.
a mãe a menina olha
“ame na escolha
fora da bolha
de si mesma”.
e em resposta,
de forma oposta,
a menina cala e pisca.
vai a sala.
“assista-
me”,
diz a tv.
...................................
uma força maligna
toma a menina
de estrutura tão fina
no rosto a pinta
preta.
em simples quebra
de monotonia,
por novas vias,
arma-se com um objeto pesado
(a menina)
e acerta-o de quina
em cima
da cabeça da mãe
que cochila no sofá
manchando toda sala alva
de sangue.
...................................
é tudo ilusão
é oficina do capeta
presença satânica de diabo morto
vontade de classe média.
medo da solidão.
dá boa noite a mãe
que lhe resmunga algo.
não se preocupe menina
o sono já vem.

Orgasmo ao acaso

A ponta da manga da blusa
jeans que ninguém usa
solta no ar
a mercê gravitacional
roça de leve o cabelo da cabeça
num movimento sexual
de ônibus lotado
no limite entre o real
e o outro estado.
Vai e vem.
Vai-e-vem.

Os longos e grossos
pêlos das costas
se ouriçam,
os dos olhos se tocam
fechando-o.

Um orgasmo ao acaso
é caso raro.

MP3

de nota a nota
de tom a tom
a vida ganha trilha
no meu MP3
sinto-me no Leblon
de Manuel Carlos.

terça-feira, outubro 31, 2006

"Sem Título" (Grafite sobre Papel)

"Fashion" (Grafite sobre papel)

sábado, outubro 14, 2006

videoart: "Ismália"

videoart: "universo um"

terça-feira, outubro 03, 2006

Nietzsche-da

sexta-feira, setembro 29, 2006

Calculadora orgânica

como diria Leminski

dia,
dai-me a sabedoria de Caetano

quinta-feira, setembro 28, 2006

suicida

pensa em ócio:
ódio ao amor
amor ao ódio
tudo é dor.

toma dramin
e dorme para sempre

quarta-feira, setembro 27, 2006

anjo torto

sou o vômito de Adão
a maçã regurjitada
a desconsciência do bem e do mal

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