Ata-me!
A paisagem urbana corre no horizonte
Na direção oposta a minha lágrima
Chuva, choro, despedida e em teus olhos tanta raiva
Despeja-a sobre mim como torrencial fonte.
Odeia-me com toda sua alma!
Bata em meu rosto, deixe a marca
Dos teus dedos tão carinhosos, da palma
Assim te carregarei comigo sem a sensação amarga
Da culpa.
Morda-me, arranca-me uma parte!
Crie em minha pele roxas abstrações
Faça de mim tua tela em branco, tua arte
Enquanto, a tarde, a carne arde, tenho certas ilusões.
Chute minhas costelas!
Retira-me mais uma vez o ar
Prova-te o quão sádico, louco és.
Na demoníaca vontade de, tomado pelo desejo, amar.
Puxa meu cabelos,
Incline minha cabeça para trás
Assim verei o céu, verei estrelas
E meus membros como me atas.
Soca-me, soca-me, por favor!
Soca-me até minha pálpebra inchar
Para que eu durma no sossego da física dor
Enquanto seu corpo e sua alma já sem ira,
Passam me amar e me sodomizar
Enquanto o negro da noite azulece.