quarta-feira, julho 02, 2008

Trava

Boto toda maquiagem

Gloss, blush, brilho

Pronta pra viagem

Pra vadiagem

Salto sobre o salto

Solta.

Sigo.

Travestida de sonho

Na rua gritam “Lá vai a prostituta”

Eu sou a puta!

E só Deus entende minha luta

Minha labuta

Sou a vadia de uma outra esquina

Nem menino, nem menina

Um devir sem passado, sem sina

Sem vagina.


As luzes laranja dos postes

Refletem em minha retina

Na escuridão, voa meu cabelo

Sou penetrada pelo meu primeiro cliente

Na praia, os dois nus em pêlo.

O amo por um momento

Estou feliz por tê-lo

Dentro de mim.

De repente, o vazio.

Sinto frio.

O primeiro golpe me derruba

O sangue vela na veia

E depois escorre pela areia

Mas não saceia.

Chutes e socos.

Oh! O som oco do ar

Da batida forte a costela.

“Cadela”.

Do tapa, o chiado.

“Viado!”.

“Safado!”

E a dor.

E a dor.

Onde está a dor?

Nesse ardor no peito?

No leito da alma?

No erro?

Quero estar num lugar

Onde não haja pecado, nem perdão.

Nem o não.


Em casa,

No banheiro,

Olho-me no espelho

E os meus sonhos escorrendo como tinta

Pelo ralo da pia.

E triste, acordo e percebo

Que ainda sou eu mesma.

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